ANJO NEGRO DE NELSON RODRIGUES +
A MISSÃO DE HEINER MÜLLER
Em 2006, quando o grupo montava “Ensaio Sobre Carolina”, Os Crespos foram convidados a participar da montagem de “Anjo Negro de Nelson Rodrigues + A Missão de Heiner Müller”, dirigida por Frank Castorf, então diretor do Volksbüene de Berlin. O grupo fazia o coro de revolucionários da “Missão”, que dava contraponto aos aspectos racistas da peça de Nelson Rodrigues. A montagem brincava com os conceitos da plateia trocando os papeis entre negros e brancos, numa releitura bastante provocativa desses clássicos.
Foram convidados atores de Teatro de grupo para a experiência com o diretor alemão e a troca entre esses artistas foi muito importante para a formação estética do grupo, assim como as escolhas e materiais utilizados por Castorf na montagem. Daí a Cia experimentou a ironia, a máscara da peruca loira, entre outros conceitos de um teatro pós-dramático, que marcaram a trajetória d’Os Crespos.
Na peça, o diretor alemão carnavaliza a tragédia, criada por Nelson, com meios tanto antropofágicos quanto políticos. O que aconteceria se as inevitáveis categorias racistas caíssem na mais desavergonhada confusão? As personagens da peça “Anjo Negro” não são idênticas aos seus intérpretes na montagem de Castorf, nem mesmo na cor: ser negro ou branco torna-se uma questão de posicionamento, uma questão de consciência. Do ódio. E dos momentos de proximidade e de amor nele contidos. Castorf argumenta, através da montagem, que a paisagem, que nos deu a luz e que alguma vez quisemos mudar, nos engole a todos sem uma “Missão”. Através da peça de Müller o diretor afirma que é preciso arrancar as nossas peles para revelar o ódio presente no ser humano.